sexta-feira, 11 de março de 2011

Meu respeito à cultura japonesa



Foram 4 anos trabalhando em uma empresa de origem japonesa. Suficientes para entender que, lá, eu era a Ana Furabia ou a Ana Siruba, já que a língua deles não inclui o L e o V. E o suficiente também para entender porque era tão importante andar pelas faixas desenhadas pelo chão do pátio da fábrica e tirar as mãos do bolso ao caminhar. Era regra. E por mais estranho que pudesse parecer, tinha fundamento.

Japonês é assim: toma cuidado com tudo. Toma cuidado com a vida.

Um dos meus professores da escola de mecatrônica uma vez contou sobre uma senhorinha em um ponto de ônibus no Japão, que ele viu juntando as folhas secas dos vasos de flores que enfeitavam o local. Era obrigação dela? Uma senhorinha? Não. Mas eles têm disso: não precisa ser obrigação.

E foi nesta empresa também que eu aprendi uma regra básica, que chega a soar engraçada, mas na prática é pior que uma equação matemática: "Um lugar pra cada coisa, cada coisa em seu lugar". O princípio dos "5S". E você, que está achando ridículo de simples, tente fazer isso em seu dia a dia (porque eu acredito que a cômoda do quarto não é o lugar da sua bolsa, é?).

Vendo as fotos de toda a destruição causada pelo maior terremoto dos últimos 140 anos do país (um amigo meu, que está em uma cidade no centro do Japão e sentiu os abalos, disse que lá eles classificam o terremoto como "Shindo 7", o último grau da escala japonesa), eu paro para perceber a organização deles: eles faziam fila (!) para usar os telefones públicos e dar notícias aos familiares. Fila, gente! Fora o que o comediante Luiz França anunciou em seu twitter às 13h (lá, por causa do fuso horário, é 1 h da manhã) "Acabamos de saber que às 3h da manhã vai rolar um terremoto forte, esperamos que não seja como o da tarde, vou tentar dormir.".
Eles já estão se preparando para o próximo, sendo que os estragos do primeiro ainda nem foram calculados...
Posso vir a queimar a língua. De repente amanhã os jornais anunciam saques ao comércio local, já
que os mantimentos começam a faltar. Mas preciso deixar registrado o meu respeito a uma cultura fantástica, de pessoas que não se atrasam, que levam a sério, que fazem acontecer.

Já rola pelo twitter: "O Japão reconstroi o país inteiro antes de o Brasil terminar um estádio para a Copa". E eu não duvido.
Com meu respeito e minhas orações.
Fotos: Reuters